Pert, Candace. Moleculesof Emotion. New York, Scribner, 1997.

 Candace Pert é uma cientista das áreas médica e biológica conhecida nos EUA pelo seu trabalho com receptores de células e sua participação na descoberta, nas décadas de 70 e 80, da substância natural produzida pelo próprio corpo equivalente aos opiáceos, a endorfina. Ambos, como vemos aqui, causaram uma revolução no conhecimento sobre o funcionamento fisiológico e psicológico da vida. Neste livro, a autora estende as consequências desta revolução em como compreendemos a estreita ligação entre cérebro, sistema nervoso, sistema endócrino e sistema imunológico, especialmente a hoje famosa ligação entre emoções e saúde. Por isso, é considerada uma das pioneiras no campo da psiconeuroimunologia (PNI).

1. A Revolução dos Receptores

O livro trata daquilo que é comumente chamado medicina mente-corpo. Assim, trata das informações e implicações práticas desta ciência e das terapias relacionadas. Naturalmente isto se coloca em choque com a ciência e a medicina cartesiana que, entre outras ideias, estipulou o isolamento entre mente e corpo, especialmente porque Descartes desejava ter à disposição corpos humanos para dissecação e precisou fazer um acordo com o Papa de que não entraria em “assuntos do espírito, da mente ou das emoções”. Contrariamente, a ciência mente-corpo mostra que:
“as moléculas de emoção rodam em cada sistema em nosso corpo [e este] sistema de comunicação é efetivamente uma demonstração da inteligência mente-corpo, uma inteligência suficientemente esperta para buscar o bem-estar e potencialmente nos manter saudáveis e longe de doenças sem necessitar de intervenções médicas de alta tecnologia nas quais confiamos” (p. 19).

O primeiro componente das moléculas de emoção que Pert menciona como importante é o receptor opióide. Trata-se de uma molécula simples, apesar de ser de um tipo raro, elegante e complicado. Moléculas receptoras presentes aos milhões nas membranas celulares respondem a energia e sinais químicos por meio de vibração. Basicamente os receptores agem como moléculas sensíveis ou scanners. Metaforicamente são como buracos de fechadura. Receptores são proteínas (as matérias primas da vida) aguardando pelas chaves químicas corretas. As chaves que ali se encaixam são chamadas ligantes. Ao encaixarem-se, cria-se uma perturbação que faz a molécula se rearranjar e mudar de forma, o que provoca um sinal e o resultado disso é informação penetrando na célula.
Os ligantes em geral são menores que os receptores, fluem livres pelos meios corpóreos e podem ser de três tipos químicos: neurotransmissores, esteroides e peptídeos. Estes últimos, em especial para os propósitos do livro, são elementos compostos de cadeias de aminoácidos.
Uma das mudanças primeiras que esta visão traz é a de que o cérebro é muito mais que um sistema de impulsos elétricos, como historicamente foi dado a pensar. O cérebro e suas células compostas de receptores e os ligantes que flutuam mostram uma imagem mais ampla, de um sistema de informações rico que adiciona à velha imagem do cérebro elétrico a ideia de um cérebro químico. “Menos de dois por cento da comunicação neuronal realmente ocorre na sinapse” (p. 139). Não só no cérebro, mas por todo o corpo, “o murmúrio musical dos receptores, à medida que se conectam aos seus muitos ligantes, frequentemente nas mais vastas e longínquas partes do organismo, criam uma integração de estrutura e função que permite ao organismo rodar suave e inteligentemente” (p. 27).
Os estudos pioneiros da psiconeuroimunologia que levaram à descoberta do receptor opiáceo acabaram se estendendo para todos os campos da medicina, unindo endocrinologia, neurofisiologia e imunologia e estimulando uma síntese de comportamento, psicologia e biologia.

2. Peptídeos

O fato mais excitante e chocante revelado pelas descobertas do receptor opiáceo é de que tanto “ratos de laboratório, a Primeira Dama ou viciado em narcóticos” (p. 63) têm o mesmo mecanismo no cérebro para gerar felicidade e consciência expandida.
De volta ao básico: aminoácidos são compostos químicos frequentemente de carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N). São classificados de acordo com estruturas genéricas, alguns chamados primários ou padrão e outros especiais, e de todos esses, alguns são essenciais. Cadeias de aminoácidos denominam-se de peptídeos, podendo ter dois aminoácidos (dipeptídeos), três aminoácidos (tripeptídeos), quatro aminoácidos (tetrapeptídeos), até cem aminoácidos (polipeptídeos). O termo proteína é quando o polipeptídeo possui cerca de duzentos aminoácidos. Aminoácidos são as letras de uma linguagem. Peptídeos, polipeptídeos e proteínas são as palavras.
O primeiro peptídeo replicado fora do corpo foi o oxitocina. Liberada pela glândula pituitária durante o trabalho de parto, liga-se aos receptores no útero causando contrações. Não só contrai o útero no trabalho de parto, mas também durante o orgasmo nas fêmeas. No cérebro, produz comportamento maternal, previne infanticídio e ajuda alguns machos roedores a manter relacionamentos monogâmicos de longa duração.
O trabalho de produzir substâncias análogas que substituam os aminoácidos gera drogas terapêuticas que podem ser mais potentes, mais duráveis ou mais resistentes que as naturalmente produzidas pelo corpo para autocura.
Uma das descobertas importantes no estudo dos peptídeos é que eles não são, na sua maioria, produzidos exclusivamente por um órgão ou local, mas em muitas partes do corpo, incluindo o cérebro. Apesar da sua estrutura simples, suas respostas podem ser complexas, levando a uma classificação dos mesmos em categorias como hormônios, neurotransmissores, neuromoduladores, fatores de crescimento, peptídeos intestinais, interleucinas, ocitocinas, quimiocinas e fatores inibidores do crescimento. Pert prefere genericamente o termo “substâncias informacionais”, pelo fato de agirem como mensageiros na distribuição de informação pelo organismo. É preciso notar ainda que alguns desses peptídeos, como a morfina e a heroína, por ex., ajustam-se ao receptor causando mudanças na célula, ao passo que outros, com estrutura muito próxima, ajustam-se ao receptor e bloqueiam ou antagonizam o mesmo tipo de atividade.
As primeiras pistas de que estas substâncias poderiam estar ligadas às emoções surgiram do estudo e compreensão da distribuição delas pelo sistema nervoso.

3. Cérebro e Bioquímica das Emoções

Por exemplo, os receptores opiáceos mostram-se mais densamente distribuídos no sistema límbico, a parte do cérebro classicamente conhecida por conter os circuitos emocionais (lembre a ideia do cérebro humano trino: reptiliano, mais central e antigo, límbico, herdado dos mamíferos e responsável pelas emoções, e neocórtex, o cérebro racional). A descoberta do receptor opiáceo foi derivada do interesse por encontrar a substância interna responsável pela modulação da dor e do prazer. Descobriu-se ser um peptídeo, a endorfina. A endorfina, então, encaixa-se aos receptores opiáceos pelo corpo, mas especialmente aqueles contidos no cérebro límbico. Mais que isto, eles são desenvolvidos no cérebro, naquele mesmo local. Sabe-se também que os níveis de endorfinas aumentam ao longo do ato sexual, bem como durante exercícios físicos.
Pert, por estes e vários outros conhecimentos, crê numa “teoria de que estes bioquímicos sejam o substrato fisiológico das emoções” (p. 130). O próprio Darwin já havia especulado sobre isto, em suas obras menos famosas sobre as emoções e a sobrevivência e a evolução das espécies. Elmer Green tem uma citação na obra de Pert que diretamente reporta um mútuo relacionamento entre emoções e a bioquímica fisiológica: “Toda mudança no estado fisiológico é acompanhada por uma mudança apropriada no estado emocional mental, consciente ou inconsciente, e reciprocamente, toda mudança no estado mental emocional, consciente ou inconsciente, é acompanhado por uma mudança apropriada no estado fisiológico” (p. 137).
Como teoricamente a maior parte da comunicação neuronal ocorre a nível químico, e não nas sinapses, e muitos peptídeos são desenvolvidos e armazenados no cérebro, ele pode ser também concebido metaforicamente como uma “bolsa de hormônios”. Ainda assim, é preciso lembrar que estes bioquímicos não estão exclusivamente presentes no cérebro, mas no sistema nervoso e nas células de outros sistemas. A bioquímica da emoção é a bioquímica da mente-corpo:
“Se aceitarmos a ideia de que peptídeos e outras substâncias informacionais são a bioquímica da emoção, sua distribuição nos nervos do corpo carrega vários significados, o qual Sigmund Freud, se fosse vivo, apontaria alegremente como a confirmação molecular de suas teorias. O corpo é a mente inconsciente! Traumas reprimidos causados por emoções esmagadoras podem ser armazenadas numa parte do corpo, consequentemente afetando nossa habilidade para sentir ou mesmo mover aquela parte” (p. 141).

Pert chama atenção também para os pontos nodais: lugares no corpo onde grande quantidade de informação converge, locais de entrada das informações dos cinco sentidos, e que possuem uma alta concentração de receptores de neuropeptídeos. Locais como corno dorsal ou a parte posterior da espinha dorsal, por ex. Por isso, as emoções não se confinam estritamente aos locais clássicos, como amídalas, hipocampo e hipotálamo. Naqueles locais também podem estar armazenadas e filtradas emoções. Termos como memórias “aprendidas”, “relembradas” ou “reprimidas” também podem estar relacionados àqueles pontos. Mudanças bioquímicas escrita no nível dos receptores são a base da memória e ela ocorre em vários locais e sistemas do corpo. Memórias são armazenadas não apenas no cérebro, mas ao longo de toda rede psicossomática, como entre os nervos e feixes de corpos celulares chamados gânglios, órgãos internos e superfície da pele. Processos de memória então são inerentemente dirigidos pelas emoções e inconscientes, embora, como muitos outros processos mediados por receptores, possam algumas vezes tornarem-se conscientes.
Experiências mostraram que drogas administradas em ratos durante momentos de aprendizado, uma vez administradas posteriormente, facilitam a recordação destas memórias. Isto também ocorre com os peptídeos relacionados a cada tipo de emoção. Uma emoção associada a uma determinada experiência pode ser reativada com o reviver da experiência, e vice-versa. Experiências positivas podem mais facilmente ser recordadas em estado de bom humor, assim como as negativas são mais facilmente recordadas em estados de emoções negativas. Há um relacionamento entre memória e emoções, e isto pode ser observado no estrato fisiológico das moléculas de emoção. Neuropeptídeos, desta maneira, podem nos colocar em estados de consciência e podem nos levar a alterações destes estados.
Algumas conclusões e especulações:
  • Para que o cérebro não seja esmagado com a torrente de entradas sensoriais, algum tipo de sistema de filtragem permite-nos prestar atenção ao que nossa mente-corpo crê ser mais importante, ignorando o resto.
  • A maior parte das mudanças em estados de atenção e consciência da mente-corpo é subconsciente.
  • Na medida em que a percepção do mundo externo é filtrada ao longo das estações sensoriais ricas em receptores de neuropeptídios, cada um com seu tom emocional, como podemos definir objetivamente o que é real e o que não é real?
  • Nem toda memória traumática que leva a desordens psicológicas deveria ser liberada pela conscientização e verbalização do processo. Há técnicas que podem fazer isto abaixo do nível de consciência. As memórias reprimidas que são armazenadas bioquimicamente no corpo – a mente inconsciente – podem ser liberadas pela liberação dos ligantes de neuropeptídios dos receptores correspondentes.

4. Mente-corpo

Endorfinas são secretadas apenas no cérebro? Não! Outra descoberta surpreendente é que as endorfinas, estas moléculas alteradoras do humor, também são secretadas nos linfócitos (células do sistema imunológico), bem como pelos ACTH (hormônios adrenocorticotróficos) produzidos pela glândula pituitária. Ou seja, as endorfinas atuam pelos sistemas imunológico e endócrino. Há um triplo relacionamento mútuo entre sistemas nervoso, endócrino e imunológico, e as emoções estão diretamente relacionadas em uma via de mão dupla de influência. As emoções afetam os sistemas e os sistemas afetam as emoções.
O stablishmentcientífico, por sua fragmentação e conservadorismo, alertou contrariamente às implicações disso. Num editorial de 1983 da revista Nature há um alerta “contra estes ‘psicoimunologistas radicais’ que poderiam prematuramente interpretar este trabalho como significando que ‘não existe um estado de mente que não esteja refletido por um estado do sistema imunológico’” (p. 162). Atualmente já se sabe que numerosos, talvez todos, peptídeos descobertos pelos imunologistas podem ser fabricados pelo cérebro sob certas circunstâncias e podem agir sobre os receptores lá localizados. O sistema imunológico é potencialmente capaz de tanto enviar informações ao cérebro via neuropeptídeos como receber informações do cérebro por esta mesma via. Há um mecanismo químico através do qual o sistema imunológico pode se comunicar não só com o sistema endócrino, mas também com o sistema nervoso e com o cérebro. Muitos foram precursores deste tipo de conhecimento, entre eles psicólogos corporais como Alexander Lowen e Wilhelm Reich. A terapia bioenergética, por exemplo, faz uso de várias posturas físicas e exercícios para acessar traumas e bloqueios profundamente armazenados (pelas memórias bioquímicas da mente-corpo). Reich, além disso, propôs a heresia de que o câncer é o resultado de falha na expressão das emoções, especialmente emoções sexuais. Atualmente estudos demonstram que o sistema imunológico torna-se mais forte e os tumores menores para pessoas em contato com suas emoções:
“Uma vez que a expressão emocional está sempre ligada a m fluxo específico de peptídeos no corpo, a supressão crônica das emoções resulta em uma perturbação massiva da rede psicossomática. Muitos psicólogos interpretaram depressão como raiva reprimida; Freud, especialmente, descreveu depressão como raiva redirecionada contra si próprio” (p. 192).

Isto leva a tratar a mente-corpo como um todo único integrado. Emoções podem ser acessadas pelo corpo. O estado da mente, os pensamentos e os sentimentos, completamente ignorados no modelo médico tradicional, atuam de maneira fundamental na saúde.
Outras descobertas da psiconeuroimunologia chocantes dizem respeito ao câncer. Por exemplo, descobriram-se que certos tipos de câncer de pulmão em fumantes são o resultado de células do sistema imunológico, os macrófagos, que são enviados em altas quantidades para combater as toxinas no pulmão, mas sofrem mutação e viram pequenas células cancerosas. Aqui a ligação se estabelece entre o câncer, o sistema imunológico e a toxicidade no corpo. Se fossem descobertos peptídeos que pudessem acessar os receptores destas células para evitar sua multiplicação, a farmacologia dos peptídeos poderia ser uma alternativa aos antigos tratamentos tóxicos, a quimioterapia.
Pert mais e mais acredita que “a rede mente-corpo de peptídeos e receptores pode ser a base molecular das emoções”. Tem a esperança de que seus pares, como estritamente materialistas, pudessem ficar felizes em descobrir que as emoções podem ser entendidas como processos biológicos moleculares básicos.
Por tudo o já descrito, Pert crê que a mente consciente entre na rede mente-corpo, ou psico-endocrino-imunológica, e aja de uma maneira deliberada. E pergunta-se: Como pode a mente mediar e modular uma experiência de dor? Que papel a consciência tem a este respeito? Uma das técnicas para isto é a respiração consciente, pois o processo libera peptídeos a partir da mudança na sua frequência e profundidade, assim como vice-versa. Outra é o biofeedback. Peptídeos e receptores tornam possível o diálogo entre processos conscientes e inconscientes. A bioquímica das emoções com seus neuropeptídios e receptores são os mensageiros que carregam informações que ligam os principais sistemas do corpo, tornando-o uma unidade chamada mente-corpo. “Emoções são o nexo entre mente e matéria” (p. 189). Para a autora “a mente está no corpo, assim como a mente está no cérebro” (p. 188).
“Eu acredito que todas as emoções são saudáveis […] Raiva, medo e tristeza, as assim chamadas emoções negativas, são tão saudáveis quanto paz, coragem e alegria. Reprimir tais emoções e não deixá-las fluir livremente é estabelecer uma des-integração no sistema, levando-o a agir contraproducentemente ao invés de como um todo unificado […] Toda emoção honesta é emoção positiva […] Saúde não é só uma questão de ter ‘pensamentos positivos’. Às vezes o melhor ímpeto de cura pode vir de um salto de partida do sistema imunológico através de uma explosão de raiva longamente suprimida. […] A chave é expressá-la e então deixar ir embora” (p. 192-193).

5. Filhos de um Novo Paradigma

Pert usa a obra para contar seus desafios na proposição de um novo paradigma em medicina e ciência. Com a ascensão da AIDS, seus estudos em psiconeuroimunologia voltam-se para esta área. Uma das descobertas é de que o vírus da AIDS entra nas células do sistema imunológico, bloqueando-as, por meio do receptor T4, encontrado nas células chamadas linfócitos T4 ou CD4. A depressão destas células torna ainda mais suscetível a infecção pelo próprio vírus e por outros micróbios benignos que podem causar infecções oportunistas. A ideia de Pert era encontrar um peptídeo sintético que imitasse um natural que pudesse bloquear o acesso do vírus aos receptores T4.

Ele acabou sendo encontrado: VIP, ou peptídeo intestinal vasoativo, o natural, e Peptídeo T, o sintético. O mais surpreendente é que o VIP está associado à emoção da autoestima. Especula-se que o VIP seja a manifestação hormonal do amor próprio, assim como as endorfinas são o mecanismo subjacente da felicidade e do apego emocional. Infelizmente, descobriu-se que o vírus tem outros comportamentos, como a entrada coparticipante por meio de outros receptores, além de ter sido rechaçado o Peptídeo T por uma pretensa “falha para replicá-lo” em laboratório.

Paralelamente, Pert começou a tornar-se curiosa sobre medicina complementar e alternativa. Quanto à meditação, Pert supõe que:
“À medida que o estresse dificulta as moléculas de emoção mover-se livremente para onde sejam necessárias, os processos amplamente autônomos que são regulados pelo fluxo de peptídeos, como respiração, fluxo sanguíneo, imunidade, digestão e eliminação, recolhem-se para uns poucos laços de realimentação e perturbam a resposta saudável normal. A meditação, na medida em que traz à superfície pensamentos e sentimentos por muito tempo enterrados, é uma maneira de por a fluir novamente os peptídeos, retornado as emoções e a mente-corpo ao estado de saúde novamente […] Traumas e bloqueios de informações físicas e emocionais podem ficar armazenadas indefinidamente no nível celular” (p. 242-243).

Sobre o novo paradigma, Pert anuncia:
“Eu não sou mais uma máquina feita de um corpo sendo dirigido por um cérebro, à mercê de cargas elétricas para manter meu coração batendo e minhas sinapses crepitando. Ao invés, eu posso ver a mim mesma como um sistema inteligente, que envolve trocas rápidas e simultâneas de grande quantidade de informação entre mente e corpo. Minhas células estão literalmente falando umas com as outras, e o meu cérebro está presente na comunicação! […] Autocura é mais uma norma que um milagre. […] Eu tenho o potencial de conscientemente intervir no próprio sistema, de tomar um papel ativo em minha própria cura” (p. 262).

Sobre uma nova luz sobre a depressão, estudos têm mostrado que crianças abusadas, negligenciadas e mal nutridas têm maior probabilidade de tornarem-se adultos depressivos. Tudo isto pode estar relacionado ao chamado eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA). Em pessoas com estresse ou depressão, estudos demonstram, terapias do abraço e do toque são capazes de operar efeitos benéficos, ativando emoções positivas e liberando áreas de memória bioquímica. Mas, desde Freud e mesmo antes, os médicos são proibidos de tocar em seus pacientes!
Saúde e medicina ambiental contribuem também para o novo paradigma. De acordo com estudos nesta área, poluentes suspensos na membrana das células alteram e interrompem o fluxo de elétrons causando “fome de energia”, fatiga crônica, alergias e sensibilidade química. Entre as mudanças químicas, alguns desses poluentes imitam hormônios sexuais, como a relação entre bisfenol A dos plásticos e estrogênio, causando, entre outros, câncer de seio. Toxinas ambientais causam a perda da resiliência do sistema imunológico pelo bloqueio de receptores por substâncias exógenas.

Pert sugere que a ação realmente saudável de nossa parte é manter a informação fluindo, os sistemas de feedback funcionando e o equilíbrio natural mantido tomando a decisão consciente de entrar na conversação mente-corpo. Se precisar ajuda, use aconselhamento psicológico, preferencialmente, com algum tipo de toque, hipnoterapia, terapias corporais, seminários de crescimento pessoal, meditação e oração, além do trabalho com sonhos: “Sonhos são mensagens diretas da sua mente-corpo” (p. 290). Isto sem falar em exercícios: “o valor dos exercícios tem menos a ver com desenvolver músculos ou queimar calorias e mais com manter seu coração bombeando mais rápida e eficientemente e por consequência aumentar o fluxo sanguíneo para nutrir e limpar seu cérebro e órgãos” (p. 296). E acredita que psicoterapia baseada na fala não parece ter o mesmo impacto sobre a mente-corpo: “Saber algo nem sempre impacta no que sentimos […] Seu corpo é sua mente subconsciente e você não tem como curá-lo apenas conversando” (p. 305-306).

Candace Pert, falecida em 2013, aparece no filme “Quem somos nós?”

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