As dez ideias que nos orientam são as do modo de pensar sistêmico. É uma busca de ênfase e valores que equilibra e transcende a dinâmica Pensamento Mecanicista x Pensamento Sistêmico. Busca as ideias de:

  1. Todo
  2. Relacionamentos
  3. Redes
  4. Circularidade
  5. Processo
  6. Metáfora do Organismo Vivo e Outras Não-Mecânicas
  7. Conhecimento Contextual e Epistêmico
  8. Descrições Aproximadas
  9. Qualidade
  10. Ação por auto-organização (Cooperação, Influenciação e Ação Não-violenta)

Para saber mais, veja um extrato do livro Pensamento Sistêmico Caderno de Campo (Andrade et al, 2006, p.42).

O Que Vem a Ser Sistêmico?

É comum às pessoas, ao tomar contato com o Pensamento Sistêmico, passarem a usar o termo “sistêmico” mais frequentemente. Referem-se a uma ação mais sistêmica, a uma teoria mais sistêmica, ou a uma decisão mais sistêmica. Passam a utilizar o termo de uma maneira mais ou menos indiscriminada. Parece útil, nesse momento, identificar de maneira um pouco mais clara o que caracteriza o termo “sistêmico”.

As Características do Pensamento Sistêmico

Além da função de ajudar no adequado emprego do termo “sistêmico”, a identificação das características do Pensamento Sistêmico tem também a função de deixar claro um conjunto de idéias que o suportam.

Essas idéias foram sendo constituídas ao longo de uma história, e consolidam-se na medida que resultados de experimentos dão mais credibilidade às próprias idéias, na ciência e na vida prática.

A história construída é a história da contextualização do pensamento mecanicista. Como você viu anteriormente, o pensamento mecanicista encontrou seus limites no início do Séc. XX. Uma nova forma de pensar era necessária, e ela necessitava ter características especiais para compreender os novos fenômenos complexos diante dos olhos dos cientistas e das pessoas em geral na vida prática.

As características que o Pensamento Sistêmico incorporou ao longo desses anos de estudo nos levaram a perceber o mundo de uma maneira específica, e a tentar resolver os problemas desta maneira. Houve uma mudança gradual de ênfases, afastando a nova forma de pensar das características do pensamento mecanicista. A partir de um novo conjunto de ênfases, foi-se caracterizando o novo paradigma.

Perceber a realidade desta nova maneira é percebê-la de uma maneira sistêmica, e resolver problemas com base nesta percepção, leva a um tipo de ação sistêmica. Mas, afinal, o que vem a ser sistêmico?

De acordo com o conjunto de vertentes sistêmicas que embasam este livro, as características do Pensamento Sistêmico são as que vêm abaixo. Trata-se da mudança de ênfase:

1) Das Partes para o Todo

No pensamento mecanicista, o processo analítico tem função primordial. Busca-se a compreensão dos objetos delimitando claramente sua fronteira e decompondo-os em partes menores de mais simples compreensão. A decomposição visa a busca de elementos de maior simplicidade, mais compreensíveis e de características mais essenciais que o próprio todo. Esse movimento é chamado de reducionismo.

Essa busca pelo essencial parte do pressuposto de que haverá uma parte muito pequena indivisível, cujas propriedades desmistificariam a complexidade inerente ao todo. Este movimento é denominado atomismo.

Este processo tanto trouxe progresso quanto dificuldades. As principais dificuldades dizem respeito a três aspectos. O primeiro é derivado da perda dos relacionamentos do todo com o ambiente apartado pelo processo de delimitação de fronteiras. O todo é isolado do seu ambiente para que possa ser mais bem controlado no processo de conhecimento. Como decorrência desse princípio, a segunda dificuldade ocorre, pois também as partes componentes são isoladas, apartando assim os relacionamentos com as demais partes e com o todo maior. E terceiro, o reducionismo e o atomismo passam a permear o pensamento científico e tecnológico, e mesmo o raciocínio diário, fazendo com que as pessoas acreditem que aquilo que não for detalhado não é sistemático, e por isso não é conhecimento verdadeiro. Esse reducionismo e atomismo exagerados levam as pessoas a “afogarem-se” em um oceano de dados, dos quais é difícil extrair uma visão estratégica, sistêmica.

O Pensamento Sistêmico busca reequilibrar as coisas passando a olhar no sentido contrário do reducionismo e do atomismo, dando maior ênfase ao todo que à parte. Inicialmente, estabelece também uma fronteira de sistema, mas ela é “fraca” e mais ou menos arbitrária, para que os sucessivos entendimentos posteriores possam restabelecer exatamente de que escopo está-se falando. Isto permite a inclusão durante o processo de aspectos importantes, como relacionamentos com o ambiente e com outros sistemas.

Há aqui também um perigo: o entendimento abstrato de que tudo está conectado a tudo, e assim só parar o processo de inclusão ao chegar ao sistema maior: o Universo. Para que o “detalhismo” não ocorra também na direção oposta, o Pensamento Sistêmico adota duas posturas: o processo de inclusão é delimitado por um interesse declarado dos atores pensantes, por um lado, e por outro sintetiza e agrega variáveis, toda vez que o mapa do sistema torna-se cognitivamente confuso.

Logo, o Pensamento Sistêmico está interessado nas características essenciais do todo integrado e dinâmico, características essas que não estão em absoluto em partes, mas em relacionamentos dinâmicos entre partes e partes, partes e todo, e entre todo e outros todos. Ao invés de se concentrar em elementos ou substâncias básicos, propõe a atenção a princípios básicos de organização e a adoção de equilíbrio entre tendências opostas, como reducionismo e holismo, e análise e síntese.

2) De Objetos para Relacionamentos

A ênfase em objetos tem parte de sua subsistência na constituição lingüística ocidental. As línguas ocidentais, a maioria delas derivadas do proto-indo-europeu, dão uma ênfase especial à leitura do mundo através de objetos, pela sua ênfase estrutural em sujeitos e objetos, ao invés dos verbos. Conhecer o mundo, dentro da tradição ocidental e mecanicista, significa conhecer os objetos que o compõem.

Não nos deteremos nas vantagens deste processo, pois não serve aos nossos propósitos neste ponto. Analogamente ao discutido na mudança de ênfase de partes para todo, o “pensamento por objetos” está pouco atento aos relacionamentos entre os objetos. Como são os relacionamentos que promovem a dinâmica, o “pensamento por objetos” não considera a codificação de atividades, de operações e, em última instância, do processo que ocorre a partir dos relacionamentos.

Uma vez reconhecida a importância dos relacionamentos para o entendimento do todo, faz mais sentido buscar um entendimento da realidade não através de coleções de objetos, mas através de redes de relacionamentos incorporadas em redes maiores. A busca da generalização no Pensamento Sistêmico não se dá por classificação de objetos isolados com as mesmas características, mas através do estudo dos padrões de organização. Neste processo, observam-se repetidamente os mesmos padrões – configurações de relacionamentos – em diferentes sistemas. Há uma mudança de foco, do que o sistema é composto (conteúdo), para padrões de relacionamentos.

Aquilo que é denominado objeto, ou parte de objeto, é apenas um padrão abstrato arbitrado dentro de uma teia inseparável de relações. Em última análise, não há objetos ou partes em absoluto, mas padrões de relacionamentos mais ou menos estáveis. Este padrão de organização, o que denominamos sistema, está em permanente coevolução através de interações.

O artigo completo com estas ideias está em Andrade et al, 2006, p.42.